Alguns diriam que é querer bem. Gostar de estar ao lado. Ter esmero. Outros, que é se identificar. É rolar a "química". Estar sempre junto. Mas nenhuma dessas respostas se eleva ao pedestal da pergunta: o que, raios, é o amor?
Eu fico puto com esses tipos de respostas. Todas são definições que não passam de aproximações grosseiras de um sentimento que, no mais da questão, dizem ser profundo. Não tentam, sequer, determinar o limite da paixão e das fronteiras do amor (se é que é possível tal proeza). Tão pouco apreendem o verdadeiro significado atrelado à palavra. São conceituações chulas que mais complica, que ajuda; deixado-nos com a leve e incômoda sensação de estar faltando alguma coisa.
São respostas que se aproximam de um "cardápio de boas instruções", cuja utilização é largamente difundida entre pessoas que não se dão o trabalho de "sentir", mas, tão somente, de gritar aos quatro cantos do mundo um sentimento que, por ventura, nunca de vero experenciou. O "x" da questão não se encontra na mera utilização conceitual que se dá ao "amor" e, sim, na banalização e difusão averbada que a expressão ganhou pelos recorrentes usos vulgares. "Nossa dificuldade está naquilo que chamamos de amor" (Krishnamurti).
Assistindo "As duas faces de um crime", um dos personagens me fez ganhar o dia quando recomendou: "Se sua mãe lhe disse que te ama, peça uma segunda opinião". Aqui, não se trata de duvidar do amor de um ente querido, mas de reparar o que significam aquelas palavras. Fico cá, com meus botões, me perguntando se é possível uma pessoa AMAR a outra da noite pro dia. Duvido categoricamente.
A parte a questão conceitual, outro problema de ainda maior monta é o que tomamos por amor. O que lá dentro nos convence que realmente estamos amando?
Acho que concordamos no ponto de que há uma diferença abismal entre o sentir e o falar. Ocupando-me, neste momento, com o sentir, aglomeram-se meus inquietamentos: quando choramos pela morte de nossas mães (permita-me tomar um exemplo bastante doloroso), nossa tristeza se dá pelo simples fato de vê-la perder a vida ou pela falta que elas irão fazer nas nossas? Receio que a segunda opção seja a mais sincera. Choramos não por elas em si., mas pela falta que elas nos irão fazer. Assim sendo, o amor se transforma numa adoração incondicional do "eu". Uma opressão do outro para adequação de nossos modelos, desejos e ambições. Um tolhimento do sentimento amor, que, amedrontado, se resume a recorrentes estados de comparação (se amamos mais ou menos, se ele(a) me ama mais que eu o(a) amo ou se o amor resistirá os infortúnios do tempo), gerando ciúmes e aflições.
Você poderia até responder que o choro é resultado da saudade, e só dela. Mas lhe resta lembrar que o sopapo bate dos dois lados: há algo mais egocêntrico que a dor que bate em SEU peito resultante da saudade? Repare que sempre utilizamos o EU para compor um sentimento que deveria ser ofertado apenas ao OUTRO, e não ser dividido entre aquele que dá (você mesmo) e aquele que recebe (seu ente querido). O que chamamos de amor passa por uma necessária existência de dois agentes: para amar é preciso ser amado. E é aí que uma frase bastante conhecida ganha ainda mais força: a maioria de nós ama mais a si mesmos. E isso acaba se tornando bastante duro de se aceitar.
Nós damos afim de receber: ao dizermos que amamos o outro, respeitamos o estrito limite do que ele nos tem a oferecer. Perceba que, quando a dor resultante do relacionamento supera as felicidades, deixamos de amar. Aí se diz que o "amor" acabou. Mas aqui me pergunto: é possível o imensurável (o amor) findar?
Incorporando essas concepções, grande parte das pessoas acaba transformando o amor numa questão de trocas. Invertem-se a rota das estradas: damos nossas mentes e não nossos corações. Assim, amigos, terminamos nos convencendo que querer o outro é o amar, onde - no cru (e no cu) - é amar a si mesmo.