domingo, setembro 12, 2010

Quando o erudito fica ridículo.





Acho interessante como as pessoas tentam, de todos os modos, "escrever difícil", acreditando que, com isso, prenderão a atenção do leitor ou que se mostrarão menos fúteis. Lembro-me dos tempos de faculdade em que um mestre aconselhava: difícil mesmo é escrever fácil. Pensando sobre isso, vi, de fato, a profundidade do buraco. Passeando pelos blogs afora, deparei-me com uma infinidade de textos que falam tanto e não dizem nada. Acredito, sinceramente, amigo leitor, que nem os próprios autores conseguem extrair um pingo de sentido no que escrevem. Isso, sim, eu chamo de completa embromação.
Bem certo é que a linguagem pode e deve, em determinadas situações, se utilizar de recursos auxiliares e, por vezes, de custoso entendimento. Afinal, "conhecimento é poder". Mas o sentido e a utilização da linguagem "erudita" há muito que se encontram deturpados. Hoje, a erudição do outro quase que significa o meu não entendimento. Quando o outro fala difícil mentalizamos: "não entendi porra nenhuma, mas ele se "garante"". 
Em determinadas situações, por óbvio, isso é perfeitamente natural. Imagine que você acabou de iniciar uma graduação e a utilização recorrente de termos técnicos é mister para o debate sobre um assunto qualquer. Caso você não esteja entendendo nada, muito bem, vá estudar para esfolar sua ignorância. Situação bem diferente, no entanto, é a utilização da linguagem erudita numa conversa de barzinho ou sobre um tema popular. Amigos, vamos combinar, isso beira ao ridículo. Penso logo: onde você quer chegar? Quando o papo é o "sentido da vida", "idealismo", "filosofia", aí a bruxa corre solta. Vejo gente citar Hegel, Kant, Marx, Schopenhauer e muitos outros sem nunca terem lido uma linha sequer. Ouvem o galo cantar não sabe onde e saem por aí cocoricando.
A teimosia incansável de transformar um assunto em demasia simples num buraco obscuro de entendimento impossível parece não ter fim. Parece que não aprenderam que assuntos complexos devem ter tratamento diferenciado e serem abordados no limite de suas respectivas complexidades, valendo a mesma lógica para assuntos de tratamento simples. Como dizia Sharon Axé Moi (risos), "cada um no seu quadrado".
Convém, ainda, ressaltar que um rico vocabulário só demonstra, de fato, toda sua ostentação num ambiente capaz de interpretá-lo. Imagine-se apresentando uma bolsa, um relógio e um óculos da Oakley para um mendigo. De duas, uma: ou o mendigo roubaria os utensílios de você (mas não por serem da Oakley, e sim por serem produtos de fácil revenda) ou ele não daria a mínima. E isso por quê? A marca, para ele, não tem nenhum significado. A "bolinha achatada da Oakley" nada diz, já que ele não faz idéia do valor da logomarca. Na verdade, podia até pensar se tratar de produtos "made in China". Da mesma forma funciona o vocabulário: se você fala difícil com a secretária de sua casa, meu amigo, sua erudição não lhe está servindo de nada. Pior situação é você falar com uma pessoa funcionalmente erudita e conhecedora do assunto, jurando está abalando, e baforar rios de merda. Por isso, cuidado com o que você for falar e escrever. Do outro lado do canal pode existir alguém com vergonha alheia por você.
Como um reforço nunca é demais, o cara fodão mesmo é que torna simples a relatividade de Einstein

sexta-feira, agosto 20, 2010

Política: entre conceitos e críticas.






E devo dizer que é como um chute no próprio saco? Como definiríamos nossa política? Se alguns conceitualistas tomam política como a arte ou ciência da organização, direção e administração da máquina estatal, sou levado a completar que, se for uma arte, no Brasil, é de péssima qualidade; se uma ciência, elementar. Em pleno o pleito eleitoral, devemos preparar nossos ouvidos e concentrar nossas atenções para as enxurradas de mentiras e avalanches de falsidades que ouviremos na televisão, nos jornais ou em qualquer outro meio de comunicação. É hilário, para não baforar aqui uma palavra de baixo calão, a forma como o nosso país fala e trata de política. Aqui, abaixo do Equador, toda denotação vira conotação. São estes os momentos em que podemos, de fato, aprender o verdadeiro significado dos eufemismos, dos pleonasmos e das mentiras.

Poucos sabem a diferença entre "democracia", "federação", "república", "presidencialismo", "parlamentarismo". "Ué, não é a mesma coisa?", perguntam-se por aí milhares de brasileiros. Não, senhores, não é a mesma coisa. Como diria o ditado popular: "O que é que o cu tem haver com as calças?". E não venha me dizer que isso é uma gangrena da ralé. Isso é uma realidade partilhada por ricos e pobres. Nesta hora, pergunto a você: qual a função de um "presidente", de um "governador", de um "deputado", de um "senador"? Quais suas semelhanças? E suas diferenças? Se senadores e deputados são partes de um mesmo poder (o Legislativo), o quê os une? O quê os separa? Se você não sabe responder essas perguntas, lembre-se que, em Outubro, você irá votar. 
Mas o pior da feira é o pagamento. Votamos sem saber para quê. Não nos informamos de quase nada. Não lemos as matérias sobre política. E ainda temos a cara de pau de reclamar. Por falta de um carrasco mais exemplar, crucificamos o Estado, esquecendo que ele é formado e administrado por homens. Qual será o próximo Collor que voltará ao poder? 
Weber, ainda na segunda metade do Século XIX, dizia que o mundo da política devia ser vocacional. Sim, sim, caro leitor, VOCACIONAL. A saber ser o conceito de “política” bastante amplo, abrangendo toda as espécies de atividade diretiva autônoma, como – por exemplo – a “política bancária”, a “política de descontos” de alguma empresa, a “política sindical”, a “política escolar” e mesmo a "política governamental", o alemão acreditava que, independentemente de onde a política ganhasse pernas, sabendo que é uma atividade essencialmente administrativa e complexa, para exercê-la haveria de se ter "dom" para isso. E por que há de existir esse "dom"?
Sabendo que, apenas no Século XIX, é que o Estado, como entidade corporativa política, passara a reivindicar o monopólio do uso legítimo da violência física, não existindo, antes disso, qualquer  reconhecimento, em relação a qualquer outro grupo ou aos indivíduos, do direito de fazer uso LEGÍTIMO da violência,  o Estado, naqueles tempos e hoje também, é a única fonte do “direito à violência”. Com este monopólio em mãos, o Estado passou a exercer, de outra maneira, é bem certo, a dominação do homem sobre o homem, fundada no instrumento da violência legítima. Sua existência associou-se à legitimidade de sua causa e a subordinação à autoridade continuamente reivindicada pelos dominadores, a qual deveria os dominados se submeterem. Fora as forças policiais, transformou-se também o Estado na mãe provedora da nossa educação e saúde. É ele quem cuida dos ferimentos e estabelece nossas "memórias memoráveis". Como se isso fosse pouco, cabe também ao Estado a exploração e provimento de nossos recursos naturais e científicos. Enfim, cabe ao Estado nossas vidas. 
A saber dessas pequenas minúcias, retomo uma frase por demais conhecida: "quem não gosta de política é governado pelos que gostam". Você não precisa tomá-la como sua grande paixão. Basta tomá-la como uma obrigação. 

quarta-feira, agosto 11, 2010

P.S.: Eu te amo.



 Eu não sou muito de chorar em filmes. Principalmente quando se tem mais de uma pessoa na sala. Com “PS: eu te amo”, no entanto, a coisa caminhou com um rumo diferente. Bem certo é que não tinha ninguém na sala, mas, mesmo se tivesse, o resultado não teria sido muito diferente. Do início ao fim, lágrimas me saltaram ao rosto. Hora de um lado, hora de outro, hora de ambos os olhos.

Certa vez uma pessoa me disse “a vida é agora. A vida está sendo agora. A vida já começou”. Para quem costuma ter como companhia a ansiedade, achando que o melhor da vida ainda estar por vir ou que a vida ainda vai inquinar, este filme é uma tapa com luva na cara. É uma forma dispare de dizer para vivermos o agora, já que este é o único tempo em que temos certeza de que podemos fazer alguma coisa. É você aproveitar as pessoas insubstituíveis como se só elas lhe restasse. É olhar para seus amados e verem neles as fontes de suas felicidades. É não aguardar por um tempo que, talvez, jamais ancore. É ter coragem de viver com o coração e ter gana para dizer que se ama sem saber o porquê.

Além disso, "PS" inova no que toma por "fim". Refresca nossas cabeças ao lembrar que as pequenas atitudes é que se transformarão nas grandes lembranças. Ensina-nos a sentir muito mais que paixão. É um filme que acredita no amor, indicado para românticos e não-românticos (para esses,  porém, recomendo assistirem sozinhos, para não terem vergonha de chorar). É, por fim, meus caros amigos, um filme que nos inspira a ser - a todo custo - feliz.

Por tudo isso, agora, grito: não deixe o "agora" para o "depois", pois o "depois" pode ir embora e você perderá o que "foi".

PS: não quis nem por a sinópse para não tirar o encanto e o deleite dos que se derem a chance de ter contato com o filme. Abaixo deixo o link da trilha sonora (que, por sinal, é fantástica):

http://www.4shared.com/get/E2HbK-VO/PS_I_Love_You_Soundtrack_bayke.html

segunda-feira, agosto 02, 2010

Vida que Vive Vidas em Uma Vida




Como diria Chaplin, "a coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina". Ouso, porém, acrescentar algumas palavrinhas. Acho que a vida é, sim, o ciclo invertido que outrora narrou nosso roteirista. Começamos sem aperreios e, quando amadurecemos, todos eles nos preenchem. É um abuso escandaloso que associa problemas à experiências; maturidade à tempo; bons conselhos à sofrimento. Ao invés de, à medida que o tempo passa, colecionarmos "ausências" de conflitos, eles se amontanham e lotam nossas contas e depósitos do correio (são as cobranças chegando e os débitos se vencendo).
A experiência sem pudor tem a coragem de se filiar à alma sem vergonha que é a merda da pele enrugar. São as transições conturbadas que nos bate a porta com uma bandeja de bosta para, na cara, nos jogar. E novamente na janela ponho a bunda para defender que a pior mudança é o enterro da adolescência. Quem disse que é bom ter experiência não sabe dos juros que se cobra pelas poucas migalhas que catamos por aí estrada a fora.
A ansiedade que nos possui impede que sejamos úteis. Há de se arrumar um emprego: "Oh menino, você não quer ser gente?", já posso ouvir da tia que finge me tomar como família. A vida não é tão bonita como cantara Gonzaguinha. Tal qual a esperança, ao mesmo tempo que nos mata, um pouco todos os dias, também nos trás o necessário para agonizar os poucos minutos que arrastamos nesta coisa chamada VIDA. Aventurados mesmo são aqueles que vivem vidas em uma vida. Vidas que sofrem, que se alegram. Que se declinam, mas também carregam. Vidas que voltam, vidas que seguem. Mas uma só vida cujo soldo é a solda da confiança que não se entrega.
Não quero aqui valorar o que cada um toma por vida. Mas vida que é vida por si só é um conglomerado reunido num só nó. Assim já disse o Chaplin:

"A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso. Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade. Você vai para colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando. E termina tudo com um ótimo orgasmo! Não seria perfeito?" (Charles Chaplin).

Como eu não poderia deixar de propor, se a vida começa ao contrário, que tal "nós alinhar"? 

terça-feira, julho 20, 2010

Cagar é Bom Demais




Caros amigos leitores, permita-me, hoje, tirar uma pulga de trás de minha orelha e matar essa minha vontade mórbida de escrever sobre assuntos que poucos se aventuram.
Várias foram as vezes em que me perguntava o porquê de em muitas situações, quando falamos especialmente em cu, melecas do nariz, piolho, caspa e outras coisinhas mais, as pessoas nos olharem com indescritível e inegável horror. Algumas chegam até ao cúmulo do absurdo de virarem a cara como se nunca tivessem feito aquelas nojeiras e, no mais das vezes, sentido PRAZER. Quem nunca teve o deleite de tirar uma BIG CATOTA do nariz e olhá-la orgulhosamente? Aventuro-me a dizer que poucas coisas são mais prazerosas que soltar um pum barulhento e fedido depois de prender, por horas, as pregas do ânus (amarradas numa importante reunião da empresa). Vou mais longe ainda ao defender que um dos momentos mais sagrados no cotidiano das pessoas é a hora da cagada. Fala sério, vamos combinar: CAGAR É BOM DEMAIS. E é por isso, portanto, que o "momento do banheiro" é insubstituível. Aproveitando a oportunidade, então: "Taty, por favor, não atrapalha!".
Parece não pairar mais dúvidas que os "bons modos" já domesticaram as mais relevantes fontes de prazer. Nunca, em meus poucos anos de vida, vi uma "conversa de bar" girar em torno do "prazer de cagar".  As pessoas parecem ser mais educadas ou finas quando não tratam destes temas. São eles desejos intimamente coagidos a se manterem calados e inexpressíveis, mas que, quando realizados, melhor, postos em prática (hermeticamente, claro), proporcionam um prazer que nos prende e vicia. Sim, sim... é possível, sim, ser viciado em peidar, cagar e tirar cacas do nariz.
Devo admitir, porém, que - apesar dessa crítica - ainda me acho refém de algumas atitudes dos "bons modos". Vocês, por sua vez, hão de reconhecer que já tomei um importante passo e superei um grande obstáculos. Devo acrescentar, ainda, que este post não teria surgido se não fosse um sujeito muito escroto e sem papas na língua: Rogério Skylab. Conhecido por suas poesias sujas e pelos temas nada românticos ou desejados, Skylab fala de todos esses temas SEM QUALQUER REMORSO. A ele, então, deixo minhas homenagens:

http://www.youtube.com/watch?v=6cAALfyAcxI

segunda-feira, julho 12, 2010

Tempo



Começo, desde já, me desculpando pela ausência incomunicada e desprezo compromissado. Foram coisas da vida que nos arrastam das letras e nos leva para vielas que pedem explicações. Clamadas minhas sinceras desculpas, nossa escolha de hoje é o TEMPO. 

Há uma semana um bom sujeito me jogou na cara que o meu problema era o tempo. Logo eu, estudioso dele, vítima indefesa que, quando achava que atacava, nocauteado era. Pois bem. Acho eu que do tempo não se fala. No máximo, se sente. Sejam pelas rugas nas mãos ou na testa, sejam pelos cabelos grisalhos ou pela pele que, teimosa, se livra do colágeno que nos prende célula a célula. Mas vou lá me atrever a falar do infortúnio do tempo.
Tentando uma definição, o Agostinho chegou a uma conclusão óbvia, mas que, de tão óbvia, eu, idiota, não pensei antes que ele (bem pudera, penso eu agora: nasci depois). Segundo o religioso, frade, libidinoso, pecador ou qualquer outro adjetivo que você queira dar, pejorativo ou não (já que o "santo" tem currículo para  adotar qualquer um que você queira dar), o PASSADO é o tempo que um dia foi, mas que, hoje, já não o é mais. Logo, o PASSADO não existe. Brilhaaaaaaaante. Mas não paramos por aí. O PRESENTE, por sua vez, é o tempo que, mal nasce, já morre. É o mesmo que, à medida que vamos nos referindo a ele, vai se esvaziando e se esmilinguindo, tornando-se PASSADO. É o que constrói em torno de se uma capa impermeável cuja força é indescritível: quando tentamos palpá-lo ele corre de nós. Portanto, o PRESENTE também não existe. Já o FUTURO, sinto dizer que também ele é uma falácia: este é o tempo que um dia irá ser, mas que ainda não é. Assim, todos nós, idiotas, nos referimos a um tempo que, NA TEORIA, nem sequer existe. Uma criação que, por si só, não se sustenta. Mas afinal, para quê serve o tempo?
Uns dizem que é para nos orientar. Imagine só o que seria do mundo se não tivéssemos um despertador.  Como fariam as pessoas para chegarem ao trabalho e prestarem suas oito horas diárias e, no final do mês, terem seus soldos? Esse é o famoso TEMPO CRONOLÓGICO, sem o qual muitos diriam ser impossível viver; quero dizer, nos tempo atuais seria impossível viver.  É o tempo em que as pessoas organizam as baladas, fazem compras, ganham dinheiro e outras coisinhas mais que não me cabe  aqui citá-las por inteiro.  Neste tempo não cabe pausa ou  stop. Ele simplesmente corre, sem se preocupar com o que vem. Mas acredite, caro amigo leitor, muitas vezes ele mais me complica, que ajuda, quando leva meus poucos suspiros de tranqüilidade e me roubam os minutos de lazer. 
Quero, no entanto, ir mais além. Inúmeros foram os povos que viveram sem essa mesma concepção de tempo, mesmo ele ali vivendo atanazando seus administrados. E aí é que cabe outras e diversas correntes. Se falarmos do TEMPO ESPIRITUAL, acha você que seria contado em segundos? Onde começa o tempo quando o ponto é o ilimitado? O que significa eternidade, se não há medida ou espaço a que se compare? Para nossas mentes o tempo eterno é inconcebível já que, fatalmente, tenderemos a pensá-lo em anos, décadas, milênios ou qualquer outro combo de números. Tentamos de toda forma prendê-lo numa limitação, mesmo que cognominando-a de ilimitada.  O tempo assim visto é mera abstração. Mera especulação. E como todo conhecimento vagamente compreendido, é de pouco útil. 
Neste encruzilhada, nossas mentes acabam escravas de um processo de ida e vinda na elaboração de um tempo que dizemos que passou, do que esta passando e do que ainda passará. Não somos capazes de conceituar o atemporal, já que nossos pequenos pensamos encontram-se presos aos limites do limitável (o tempo). O problema é que muitos não notam que o pensamento é sempre passado. Que é a junção de nossas experiências e vivências que tentam se projetar para o futuro, fazendo planos que podem jamais se concretizar (e, aí, acabamos culpando o inocente: "é o tempo que ainda virá"). Neste momento é que me perco pensando: "A mente é a máquina do tempo, é o passado. O pensamento é sempre do passado, que é a continuação do conhecimento. Este é sempre do passado; o conhecimento nunca é sem tempo, mas sempre no tempo e do tempo. Essa continuação é a memória, o conhecimento, é a consciência", todos eles se misturam, mergulhando numa imprecisa definição de tempo.

terça-feira, junho 22, 2010

O que se diz que é amor




Alguns diriam que é querer bem. Gostar de estar ao lado. Ter esmero. Outros, que é se identificar.  É rolar a "química". Estar sempre junto. Mas nenhuma dessas respostas se eleva ao pedestal da pergunta: o que, raios, é o amor?
Eu fico puto com esses tipos de respostas. Todas são definições que não passam de aproximações grosseiras de um sentimento que, no mais da questão, dizem ser profundo. Não tentam, sequer, determinar o limite da paixão e das fronteiras do amor (se é que é possível tal proeza). Tão pouco apreendem o verdadeiro significado atrelado à palavra. São conceituações chulas que mais complica, que ajuda; deixado-nos com a leve e incômoda sensação de estar faltando alguma coisa. 
São respostas que se aproximam de um "cardápio de boas instruções", cuja utilização é largamente difundida entre pessoas que não se dão o trabalho de "sentir", mas, tão somente, de gritar aos  quatro cantos do mundo um sentimento que, por ventura, nunca de vero experenciou. O "x" da questão não se encontra na mera utilização conceitual que se dá ao "amor" e, sim, na banalização e difusão averbada que a expressão ganhou pelos recorrentes usos vulgares. "Nossa dificuldade está naquilo que chamamos de amor" (Krishnamurti).
Assistindo "As duas faces de um crime", um dos personagens me fez ganhar o dia quando recomendou: "Se sua mãe lhe disse que te ama, peça uma segunda opinião". Aqui, não se trata de duvidar do amor de um ente querido, mas de reparar o que significam aquelas palavras. Fico cá, com meus botões, me perguntando se é possível uma pessoa  AMAR a outra da noite pro dia. Duvido categoricamente.
A parte a questão conceitual, outro problema de ainda maior monta é o que tomamos por amor. O que lá dentro nos convence que realmente estamos amando? 
Acho que concordamos no ponto de que há uma diferença abismal entre o sentir e o falar. Ocupando-me, neste momento, com o sentir, aglomeram-se meus inquietamentos: quando choramos pela morte de nossas mães (permita-me tomar um exemplo bastante doloroso), nossa tristeza se dá pelo simples fato de vê-la perder a vida ou pela falta que elas irão fazer nas nossas? Receio que a segunda opção seja a mais sincera. Choramos não por elas em si., mas pela falta que elas nos irão fazer. Assim sendo, o amor se transforma numa adoração incondicional do "eu". Uma opressão do outro para adequação de nossos modelos, desejos e ambições. Um tolhimento do sentimento amor, que, amedrontado, se resume a recorrentes estados de comparação (se amamos mais ou menos, se ele(a) me ama mais que eu o(a) amo ou se o amor resistirá os infortúnios do tempo), gerando ciúmes e aflições.
Você poderia até responder que o choro é resultado da saudade, e só dela. Mas lhe resta lembrar que o sopapo bate dos dois lados: há algo mais egocêntrico que a dor que bate em SEU peito resultante da saudade? Repare que sempre utilizamos o EU para compor um sentimento que deveria ser ofertado apenas ao OUTRO, e não ser dividido entre aquele que dá (você mesmo) e aquele que recebe (seu ente querido). O que chamamos de amor passa por uma necessária existência de dois agentes: para amar é preciso ser amado. E é aí que uma frase bastante conhecida ganha ainda mais força: a maioria de nós ama mais a si mesmos. E isso acaba se tornando bastante duro de se aceitar. 
Nós damos afim de receber: ao dizermos que amamos o outro, respeitamos o estrito limite do que ele nos tem a oferecer. Perceba que, quando a dor resultante do relacionamento supera as felicidades, deixamos de amar. Aí se diz que o "amor" acabou. Mas aqui me pergunto: é possível o imensurável (o amor) findar? 
Incorporando essas concepções, grande parte das pessoas acaba transformando o amor numa questão de trocas. Invertem-se a rota das estradas: damos nossas mentes e não nossos corações. Assim, amigos, terminamos nos convencendo que querer o outro é o amar, onde - no cru (e no cu) - é amar a si mesmo.

segunda-feira, junho 21, 2010

Que nome você dá?




Que nome você dá quando estamos cá e, ao mesmo tempo, lá? Quando ganhamos asas para voar num pequeno quarto? Quando andamos flutuando em cima de pés descalços? Que sentimento é este que te rouba o corpo, descontrola o olhos e te enrola o lombo? Será mel misturado com doce? Fruta com hortelã? Céu azul, pipoca ou amoras? Bons amigos de bem? Um olhar sem direção? Uma saudade tão perto? Ou o lado a lado distante?  O que você diz quando se tem olhos só para um ponto? Olhar pro fim e não ver horizontes? Transformar um segundo num encontro dos astros? O que você diria se eu acreditasse em destino, respirasse Shakespeare e perdesse o sono falando amor? 
Meu caro leitor, não é apologia. Tão pouco agonia, que tanto me arrasta, que me leva e me solta ,que vão e, num só tempo, voltam. E se fosse amor o que, por hora, eu sinto e você, do seu canto, duvida se o que faço é poético ou de longe ridículo? Caso assim você se pergunte, eu arriscaria dizer que só dois dizeres há. Ou você é louco, por sempre ter amado, ou nunca de amor tão verdadeiro pôde cair num beco que sobe para baixo.
Se só quem ama consegue ver o preto meio rosado; a chuva ensolarada; e as nuvens com bichinhos, digo  cá, a vocês, baixinho, que daqui sonho alto. Por falta de nome melhor e por não querer exatidão, digo que isso é aussubo, já que para amor não existe tradução.

PS: a você dedico, minha valorada vida. Meus braços. Minha chegada. Minha partida.

domingo, junho 20, 2010

Saramago



"É assim a vida, vai dando com uma mão até que chega o dia em que tira tudo com a outra". E da mesma forma sua vida não foi diferente. Ao que parece, as intermitências cessaram, meu polêmico Saramago. Morte que é morte escolhe o momento certo. Existindo ou não Deus, escrito ou não o evangelho, ensaiada ou não a cegueira, você foi e não foi mais um levado, deixando alguns na tristeza.
Se do lado do corte foi um polêmico escritor, crítico literário, comunista ferrenho, estilo inalcançável; do outro, você conseguiu mesclar a arte ao amargo sabor de dizer o que se diz no fundo de um peito cujo coração vira o capitalismo crescer e a União Soviética cair. Queria muito a "morte parada" nestes momentos. Queria deixá-la de férias e fingir que nada acontece com seu corpo, velho e sedento. Mas como você mesmo disse, da morte precisamos nem que seja para bancar aos cemitérios, hospitais e todos os credos, que se disfarçam na fé dos fiéis e encontram abrigo na casa de taipa dos mais miseráveis guetos.
Os olhos que muitos virão bastante vivos, se fecham para esse mundo e levam a luminosidade e clarividência de um grande homem que, sem medo, criticou, falou e olhou. Olho que enxergou os detalhes e, com malícia, se revoltou. "Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara" (Livro dos Conselhos). E Saramago se despediu. Acabou-se sua canção. E, talvez, queimado ele esteja aqui e, ao mesmo tempo, em todos os lugares.

sexta-feira, junho 18, 2010

"Por que as Coisas São Como São?"


 


Ainda hoje me flagrei num questionamento bizantino: "por que as coisas são como são?". Às dez da manhã, de um lado, uma amiga lamentava a lástima de sua avó (doente e cansada); de outro, ao meio-dia, lamentava eu a partida de um antigo amigo (antigo de velho e, não, de finda a amizade). Logo me veio  o conhecido Manuel; Manuel, aquele  que tem Bandeira no nome:  "A casa de nossos avós, tão cheia de eternidade".  Mas  esquecia eu que a eternidade, como qualquer outra coisa, também se finda. Como informação demais nunca é de menos, acabei recorrendo à espiritualidade. Tentativa chula de explicar nossa eterna limitação. Em tempos assim começamos a perceber que os medos vão se amontoando. Uma gigantesca bola de neve surge. E vamos levando essas dúvidas cobertas de dívidas com si mesmas. Uma caça da raposa à toca. E tocamos a vida sem qualquer remorso. 
Passa a tristeza e chegam clarões de felicidade. Se esse sentimento, que faz com que expúnhamos nossa dentadura com média de 28 dentes (que servem, agora, para muito pouca coisa), associada, quase sempre, ao bem-estar, com objetivo quase exclusivo de expurgar todo mau augúrio, for, como diria Schopenhauer, apenas um raro momento da vida em que nos vemos livre do fardo da tristeza, digo com todos as palavras, caro leitor, NÃO HÁ MOTIVOS PARA COMEMORARMOS. Hoje, a morte. Amanhã, o cartão. Daqui a uma semana, as compras, os impostos, as multas, o trânsito, a penhora. Passados alguns anos, seus remédios. Corridos outros tantos, já se é suficiente para que sua própria bunda se transforme num stress (duro de se conter, fedido para se limpar).
Se você for um do tipo HUMANISTA (com o mínimo de humanidade), basta abrir as páginas de qualquer jornal para que seu momento de luz escureça (seja por vermos a libidinagem que toma conta de nosso lábaro, seja pelos cotidianos casos de mortes que, há muito, se tornaram, apenas, PÁGINAS DE JORNAL). São os tipos de estatísticas que você deve ter OBRIGAÇÃO de sofrer, já que se diz tão humanista. Então sofra e tire essa máscara hipócrita que esconde seu rosto. Sendo você um ATIVISTA, já deveria estar nas ruas protestando. Mas vamos combinar: protesto, hoje em dia, é o que mesmo? Se não envolve salário, o máximo que ficamos é revoltado. Mas deixemos isso um pouco de lado. Vamos considerar ser você um pouco mais INDIVIDUALISTA. Aí, digo eu: Oh miserável, olhe-se no espelho e note que o mundo não se enrosca no seu umbigo.
Em todo caso, continuamos perguntando: há ou não alguma alternativa pra esta merda? Receio não ter uma resposta; afinal, isso é, SIM, um papo bizantino. E como detrás de toda grande resposta está uma grande pergunta, continuo eu me questionando: "por que as coisas são como são?". Mas não se desespere, amigo leitor, nem tudo se resume à tristeza. De quatro em quatro anos, há futebol, mulher, cachaça, mutretas.

quinta-feira, junho 17, 2010

Prólogo.


"Uma tentativa nada custa". Tentava eu me convencer. "Vamos, vamos, vamos! Minha poesia não é literatura", novamente insistia, relutando em não fazer. Mas agora me redimo e me aventuro nas aventuras de vocês. Um "boom" para expulsar os "boons" de nossas gargantas. Caro leitor, aqui estou.
Vou, sim, por a bunda na janela para baixar esse meu calor. Resumirei alguns temas. Inventarei alguns outros. Falaremos de músicas, de ruídos e outros sons. De películas, de pele e de calor. De políticos e de ladrões. Do mundo, do globo, do redondo, da cabeça, das calças, do medo e do cu, afinal, "quem tem cu tem medo". E porque deixar de fora o sexo, as mulheres, o dinheiro, as drogas e o rock and roll?
Reservo algum prazer, pingados leitores. Ao meu lado existe uma mulher; e receios que vocês não iriam querer que a noite acabasse por aqui.
De Vil, devo a você. Agora afinarei meu verbo, já que palavras pesam menos que objetos.