sexta-feira, maio 02, 2014





É com imenso prazer, queridos leitores, que retomo o blog e me encontro novamente com vocês, após longo abandono.

A correria da vida é pra todos e, não podendo ser diferente, tive que abandonar alguns projetos, logrando-os ao naufrágio, para proteger uma pepita de ouro mais importante. Pois bem, entenderei perfeitamente sua escusa em continuar acompanhando esse blog, afinal:  sua atenção ainda tem valor. Devo alertá-lo, porém, que, caso decida acompanhar de perto esse espaço, é palpável que minhas ausências voltem a acontecer, em que pese meu comprometimento pessoal para que isso não seja necessário. Tudo isso, no entanto, é secundário. mais importa uma boa aventura, que a segurança entediada.

Hello Sailor, prontos para embarcar? 


Para hoje, trago um tema por demais conhecido: SORTE.

Quem nunca, um dia, tocou o fundo das calças verificando se ainda estava intacta depois de uma saída melada de uma situação difícil? Quem, numa prova, sem qualquer ideia da resposta, acertou o gabarito na mosca? Acuse-se aquele que, num dia chuvoso e cinza, deu uma cantada, por demasia descompromissada, e a boneca caiu de bandeja? Pois bem, nomear-se-ia "cagada", "melado", "sortudo" ou mais o quê? Seria a "SORTE" a união dos astros que, em congruência com o espaço, perfeitamente alinhado ao sol e às estrelas da constelação vizinha, tudo isso perfazendo um ângulo de 45º com o beneficiado, diante das orações de pagãos e fieis, no Olimpo dos doze deuses gregos, pelo sofrimento plebeu e luxuria nobre, que o "deuspaitodopuderosonossosinhor" resolveu nos oferece um suspiro de esperança? Vai que seja mesmo, né?

Ao que me parece, a maioria das pessoas não se julgam um tipo exemplar do que se pode chamar de "sortudo", justamente pela nada rotineira junção dos elementos essenciais a sua ocorrência (união dos astros, congruência com o espaço, com o sol e com as estrelas (da constelação vizinha, não se pode esquecer dessa parte), num ângulo de 45º (esse aqui é fácil)... afffff... cansei. Os demais requisitos é só dar uma olhadinha acima para ver se a sua sorte está perto de chegar. Tomara que esteja). 

Muito pelo contrário, quase sempre, o azar parece nos perseguir; seja por perdermos o ônibus segundos antes de chegarmos à parada, seja por, nos momentos de maior pressa, encontrarmos um alesado que, a passos de formiga, nos obriga a ficar como lesmas em ladeiras altas.

Num dia incomum, no entanto, me senti o cara mais sortudo do mundo. Acredite: consegui juntar todos os requisitos da SORTE. E o melhor: não o desperdicei para encontrar uma moeda de 05 centavos. E fica a dica extra: é bom, também, rezar, todos os dias, para que o "deuspaitodopuderosonossosinhor" não nos faça desperdiçar esse momento tão sublime com acontecimentos tão insignificantes. Momentos de sorte são raros. ACREDITE.

Diante, então, do equilíbrio perfeito da galáxia em meu favor, perfazendo, sempre, o citado ângulo de 45º, para todos com quem me encontrava, dizia: "Contei bastante com a sorte". Eu estava feliz. Eu estava realmente MUITO FELIZ. Numa dessas declamações, no entanto, uma sujeitinha me deu a intrigada resposta: "Sorte é quando preparação encontra oportunidade".

E aí? Só é possível a sorte cair em nossos colos quando as oportunidades existem?

Depois de toda essa teoria, só tenho uma única resposta: claro que não, apesar de achar a frase digna de cartaz! Não perdi todo esse tempo tentando lhes convencer disso para, ao final, dizer que não valeu de nada.

Sorte é sorte. E não vou gastar a minha com qualquer besteira. 

 


sexta-feira, março 18, 2011

Pink Floyd - Meddle (1971)



           Muito bem amigos leitores, hoje tentarei fazer algo diferente. Resolvi passearmos por um universo desconhecido da atmosfera artificial (ou natural, seja como for) que o Pink Floyd nos carrega. O álbum escolhido foi o Meddle e isso por vários motivos que vocês constatarão ao lerem o post. 
            Lançado em 1971, o Meddle se apresentou como o projeto pelo o qual o Pink Floyd iria dar continuidade nos anos que se seguiriam. Foi quando a banda começou um processo de solidificação e coesão entre seus integrantes, começando a arriscar efeitos e melodias até então tidas como experimentais. É um tipo de álbum cujas faixas se prolongam de forma tal a comporem parte de um todo único e inseparável, como se constata na mudança da faixa 1 (One of These Days) para a faixa 2 (A Pillow of Winds), artifício esse recorrentemente utilizado em álbuns posteriores, como o "Dark Side of the Moon" (1973) e o "The Wall" (1979). Seria o começo de uma trajetória para um infinito desconhecido que, por aqueles tempos, começava-se a se desvendar.
             No epicentro de uma série de descobertas científicas, num mundo polarizado e em pleno fogo cruzado da corrida armamentista e espacial, o Meddle aparece entre o som caipira dos interiores ingleses e a revolução da descoberta do espaço sideral. É como se "Seamus" e "Echoes" compusessem e dividessem uma mesma realidade, e, de fato, dividiam. É o conhecido tomando parte do desconhecido. É a calmaria de "A Pillow of Wings" seguindo o caótico cenário de "One of These Days". Era, como o próprio título do álbum não deixa dúvidas, o "meio" (Meddle) de um mundo dividido em dois. Um lado de mudanças, outro de permanências. Um de armas,  outro de rosas. Um de dor, outro de amor. Um de ódio, outro de paz. 
              Basta um pouco de imaginação para, logo com a capa do álbum, viajarmos para um filme que passa diante nossos olhos: a base para o desenho final estampado no Meddle foi um "ouvido em baixo d´água", uma espécie de referência a distorções de todos os tipos. Como se submersos, a realidade exterior estivesse deturpada. É o claro encontrando com o escuro. É um câncer preto numa imensidão branca. É pavor e tranquilidade. É o "meio" entre a insanidade e a lucidez. É tudo isso querendo uma solução um pouco menos conturbada. 
            "One of These Days" é a faixa inaugural do álbum. Já com os primeiros acordes do contra-baixo, se prenuncia um ambiente confuso, desordenado e caótico. É como se o que separasse a tranquilidade do terror e do estresse das grandes cidades fosse uma única ponte. Logo vem os teclados ostilizando ainda mais a cena como se dissessem para ficarmos alertas aos perigos que, com certeza, iriamos nos defrontar. Não demora, então, para a guitarra-havaiana de Gilmour e a bateria apressada de Nick mostrarem para que veio. É a sonorificação das grandes metrópoles. São as buzinas dos automóveis pedindo passagem. É o concreto tomando lugar da terra. É o capitalismo proficiando "One of these days, I'm going to cut you into little pieces" (Num destes dias, Eu vou te cortar em pedacinhos).
             Como depois da tempestade tem a bonança, "A Pillow of Wings" é como um pouso de um voo turbulento. É o vento frio e incômodo dando lugar à segurança do lar. Chegamos, enfim, em casa. A noite tinha caído. Mais um dia que passou. Mas outro logo iria começar.  
              É neste momento que "Fearless" aparece como uma mensagem àqueles que temem tombar aos infortúnios daqueles tempos. "You say the hill's too steep to climb, Climb it" (Você diz que a colina é muito íngreme para escalar, Escale-a). É como se resistindo, provássemos que podíamos ir bem mais além do que podíamos imaginar. É encarar a multidão destemidamente. E um conselho, por fim, é dado: "Walk on, walk on, with hope in your heart, and you'll never walk alone, You'll never walk alone"(Caminhe, caminhe, com esperança no seu coração, e você nunca andará sozinho, você nunca andará sozinho).
              Aprendida a lição de casa, agora é tempo de sair. Vamos nos divertir. Vamos esquecer de tudo isso. Vamos a "San Tropez". É todo o dever sendo posto em prática. "Open a book, take a look at the way things stand" (Abra o livro, dê uma olhada na forma como as coisas foram postas). É aqui que todo o charme dos teclados de Richard Wright vem a tona, tranquilizando o agitado coração que outrora estava descontrolado, para fazer um par com "Seamus" em experimentação e licença poética e musical. 
                 Para fechar o álbum, temos a colossal "Echoes". Os pingos do além ganham grandes formas. É um universo distante e desconhecido gritando por ninguém. Clamando um encontro. Esperando pela eternidade. É o encontro com o próprio "eu". É o auto-conhecimento. É a viagem por "mim" e por "você". Sou "eu" e é o "outro".  Somos "nós" e "ninguém". É ser "tudo" e é ser "nada". É o "eco" de tudo que somos. "Eu'" sou "você", "você" sou "eu". E somos todos parte de um mesmo todo. "Strangers passing in the street, By chance two separate glances meet, And I am you and what I see is me" (Estranhos passando na rua, Acidentalmente dois olhares se encontram, E eu sou você e o que eu vejo sou eu). Aqui temos a personificação caricaturada de uma sociedade que, achando está mutilando o outro, não vê que se auto-mutila. E, assim, a canção se despede deixando-nos uma leve sensação que os clamores foram para ouvidos mocos. E regressamos para o buraco negro do qual nunca sairemos. De onde continuaremos pedindo aos céus uma canção de ninar. 

sexta-feira, março 11, 2011

Metal Contra as Núvens

          



             Depois de tanto tempo ausente, já tenho cruéis dúvidas se conservo aqueles meus poucos leitores. Caso eu tenha passado a ser apenas mais um escritor eremita, absoluta certeza tenho que fora por motivos bem mais justos que o meu inexplicado desaparecimento. Por outro lado, se eu conseguira conservar ao menos um de meu fiel público, a este minhas reverências e minha infeliz promessa que isso pode acontecer algumas vezes mais. Devo, porém, a estes dizer que não é por descaso ou qualquer outro motivo fútil que lamento ter que fugir. O fato é que, de uns meses para cá, tenho andado mais pesado que a pena que ilustra este espaço.
            Infelizmente são nos momentos de maiores dificuldades que nossos limitados olhos conseguem enxergar o que realmente importa. Por essas horas um completo tolo, um escravo de abismos que se multiplicam além de nosso controle. É quando a vida está por um fio e quando os suspiros se transformam em urros que dimensionamos a raridade de nossas vidas e a qualidade de nossas companhias. Devo dizer que não é o homem que faz o tempo, mas o tempo que faz o homem. São as marcas das cicatrizes que nos fazem lembrar o amargo sabor da dor e do valor que ela tem para fazer-nos perseverar. Talvez a única coisa que possamos arriscar quantificar é o tempo que levaremos para nos erguer das quedas que, com certeza, acontecerão. No meu caso, o tempo não tem pressa alguma. Quem sou eu, então, para tê-la?
             Cada vez mais comprimimos os poucos minutos que temos de reflexão, negociando-o por valores invertidos, onde o que é menos vale mais e o que é mais vale menos. Agora não quero exemplificar, sei que todos já sabem quando o sapato aperta o calcanhar. 
            Tenho que confessar que comecei escrevendo este post sem qualquer intenção pré-determinada. Sem qualquer assunto em mente. Simplesmente escrevi. E aqui está. Na verdade, pouco sei qual sentido terão todas essas linhas. Como cegar os olhos, ensurdecer os ouvidos e calar a boca são bem mais fáceis que dar a cara a tapa, uma coisa para mim é certa: duvido que farão o efeito que meu coração espera. Acho que tudo isso é uma mescla de raiva, solidão, revolta e carência. É um desabafo calado para todos aqueles que se negam a ouvir. É quando a brasa se torna cinza que o fogo ganha seu valor. Assim deixo minhas desculpas aos leais amigos, minhas lamurias a quem servir.

"Eu sou metal, raio, relâmpago e trovão (...), eu sou o ouro em seu brasão" (Renato Russo).

domingo, setembro 12, 2010

Quando o erudito fica ridículo.





Acho interessante como as pessoas tentam, de todos os modos, "escrever difícil", acreditando que, com isso, prenderão a atenção do leitor ou que se mostrarão menos fúteis. Lembro-me dos tempos de faculdade em que um mestre aconselhava: difícil mesmo é escrever fácil. Pensando sobre isso, vi, de fato, a profundidade do buraco. Passeando pelos blogs afora, deparei-me com uma infinidade de textos que falam tanto e não dizem nada. Acredito, sinceramente, amigo leitor, que nem os próprios autores conseguem extrair um pingo de sentido no que escrevem. Isso, sim, eu chamo de completa embromação.
Bem certo é que a linguagem pode e deve, em determinadas situações, se utilizar de recursos auxiliares e, por vezes, de custoso entendimento. Afinal, "conhecimento é poder". Mas o sentido e a utilização da linguagem "erudita" há muito que se encontram deturpados. Hoje, a erudição do outro quase que significa o meu não entendimento. Quando o outro fala difícil mentalizamos: "não entendi porra nenhuma, mas ele se "garante"". 
Em determinadas situações, por óbvio, isso é perfeitamente natural. Imagine que você acabou de iniciar uma graduação e a utilização recorrente de termos técnicos é mister para o debate sobre um assunto qualquer. Caso você não esteja entendendo nada, muito bem, vá estudar para esfolar sua ignorância. Situação bem diferente, no entanto, é a utilização da linguagem erudita numa conversa de barzinho ou sobre um tema popular. Amigos, vamos combinar, isso beira ao ridículo. Penso logo: onde você quer chegar? Quando o papo é o "sentido da vida", "idealismo", "filosofia", aí a bruxa corre solta. Vejo gente citar Hegel, Kant, Marx, Schopenhauer e muitos outros sem nunca terem lido uma linha sequer. Ouvem o galo cantar não sabe onde e saem por aí cocoricando.
A teimosia incansável de transformar um assunto em demasia simples num buraco obscuro de entendimento impossível parece não ter fim. Parece que não aprenderam que assuntos complexos devem ter tratamento diferenciado e serem abordados no limite de suas respectivas complexidades, valendo a mesma lógica para assuntos de tratamento simples. Como dizia Sharon Axé Moi (risos), "cada um no seu quadrado".
Convém, ainda, ressaltar que um rico vocabulário só demonstra, de fato, toda sua ostentação num ambiente capaz de interpretá-lo. Imagine-se apresentando uma bolsa, um relógio e um óculos da Oakley para um mendigo. De duas, uma: ou o mendigo roubaria os utensílios de você (mas não por serem da Oakley, e sim por serem produtos de fácil revenda) ou ele não daria a mínima. E isso por quê? A marca, para ele, não tem nenhum significado. A "bolinha achatada da Oakley" nada diz, já que ele não faz idéia do valor da logomarca. Na verdade, podia até pensar se tratar de produtos "made in China". Da mesma forma funciona o vocabulário: se você fala difícil com a secretária de sua casa, meu amigo, sua erudição não lhe está servindo de nada. Pior situação é você falar com uma pessoa funcionalmente erudita e conhecedora do assunto, jurando está abalando, e baforar rios de merda. Por isso, cuidado com o que você for falar e escrever. Do outro lado do canal pode existir alguém com vergonha alheia por você.
Como um reforço nunca é demais, o cara fodão mesmo é que torna simples a relatividade de Einstein

sexta-feira, agosto 20, 2010

Política: entre conceitos e críticas.






E devo dizer que é como um chute no próprio saco? Como definiríamos nossa política? Se alguns conceitualistas tomam política como a arte ou ciência da organização, direção e administração da máquina estatal, sou levado a completar que, se for uma arte, no Brasil, é de péssima qualidade; se uma ciência, elementar. Em pleno o pleito eleitoral, devemos preparar nossos ouvidos e concentrar nossas atenções para as enxurradas de mentiras e avalanches de falsidades que ouviremos na televisão, nos jornais ou em qualquer outro meio de comunicação. É hilário, para não baforar aqui uma palavra de baixo calão, a forma como o nosso país fala e trata de política. Aqui, abaixo do Equador, toda denotação vira conotação. São estes os momentos em que podemos, de fato, aprender o verdadeiro significado dos eufemismos, dos pleonasmos e das mentiras.

Poucos sabem a diferença entre "democracia", "federação", "república", "presidencialismo", "parlamentarismo". "Ué, não é a mesma coisa?", perguntam-se por aí milhares de brasileiros. Não, senhores, não é a mesma coisa. Como diria o ditado popular: "O que é que o cu tem haver com as calças?". E não venha me dizer que isso é uma gangrena da ralé. Isso é uma realidade partilhada por ricos e pobres. Nesta hora, pergunto a você: qual a função de um "presidente", de um "governador", de um "deputado", de um "senador"? Quais suas semelhanças? E suas diferenças? Se senadores e deputados são partes de um mesmo poder (o Legislativo), o quê os une? O quê os separa? Se você não sabe responder essas perguntas, lembre-se que, em Outubro, você irá votar. 
Mas o pior da feira é o pagamento. Votamos sem saber para quê. Não nos informamos de quase nada. Não lemos as matérias sobre política. E ainda temos a cara de pau de reclamar. Por falta de um carrasco mais exemplar, crucificamos o Estado, esquecendo que ele é formado e administrado por homens. Qual será o próximo Collor que voltará ao poder? 
Weber, ainda na segunda metade do Século XIX, dizia que o mundo da política devia ser vocacional. Sim, sim, caro leitor, VOCACIONAL. A saber ser o conceito de “política” bastante amplo, abrangendo toda as espécies de atividade diretiva autônoma, como – por exemplo – a “política bancária”, a “política de descontos” de alguma empresa, a “política sindical”, a “política escolar” e mesmo a "política governamental", o alemão acreditava que, independentemente de onde a política ganhasse pernas, sabendo que é uma atividade essencialmente administrativa e complexa, para exercê-la haveria de se ter "dom" para isso. E por que há de existir esse "dom"?
Sabendo que, apenas no Século XIX, é que o Estado, como entidade corporativa política, passara a reivindicar o monopólio do uso legítimo da violência física, não existindo, antes disso, qualquer  reconhecimento, em relação a qualquer outro grupo ou aos indivíduos, do direito de fazer uso LEGÍTIMO da violência,  o Estado, naqueles tempos e hoje também, é a única fonte do “direito à violência”. Com este monopólio em mãos, o Estado passou a exercer, de outra maneira, é bem certo, a dominação do homem sobre o homem, fundada no instrumento da violência legítima. Sua existência associou-se à legitimidade de sua causa e a subordinação à autoridade continuamente reivindicada pelos dominadores, a qual deveria os dominados se submeterem. Fora as forças policiais, transformou-se também o Estado na mãe provedora da nossa educação e saúde. É ele quem cuida dos ferimentos e estabelece nossas "memórias memoráveis". Como se isso fosse pouco, cabe também ao Estado a exploração e provimento de nossos recursos naturais e científicos. Enfim, cabe ao Estado nossas vidas. 
A saber dessas pequenas minúcias, retomo uma frase por demais conhecida: "quem não gosta de política é governado pelos que gostam". Você não precisa tomá-la como sua grande paixão. Basta tomá-la como uma obrigação. 

quarta-feira, agosto 11, 2010

P.S.: Eu te amo.



 Eu não sou muito de chorar em filmes. Principalmente quando se tem mais de uma pessoa na sala. Com “PS: eu te amo”, no entanto, a coisa caminhou com um rumo diferente. Bem certo é que não tinha ninguém na sala, mas, mesmo se tivesse, o resultado não teria sido muito diferente. Do início ao fim, lágrimas me saltaram ao rosto. Hora de um lado, hora de outro, hora de ambos os olhos.

Certa vez uma pessoa me disse “a vida é agora. A vida está sendo agora. A vida já começou”. Para quem costuma ter como companhia a ansiedade, achando que o melhor da vida ainda estar por vir ou que a vida ainda vai inquinar, este filme é uma tapa com luva na cara. É uma forma dispare de dizer para vivermos o agora, já que este é o único tempo em que temos certeza de que podemos fazer alguma coisa. É você aproveitar as pessoas insubstituíveis como se só elas lhe restasse. É olhar para seus amados e verem neles as fontes de suas felicidades. É não aguardar por um tempo que, talvez, jamais ancore. É ter coragem de viver com o coração e ter gana para dizer que se ama sem saber o porquê.

Além disso, "PS" inova no que toma por "fim". Refresca nossas cabeças ao lembrar que as pequenas atitudes é que se transformarão nas grandes lembranças. Ensina-nos a sentir muito mais que paixão. É um filme que acredita no amor, indicado para românticos e não-românticos (para esses,  porém, recomendo assistirem sozinhos, para não terem vergonha de chorar). É, por fim, meus caros amigos, um filme que nos inspira a ser - a todo custo - feliz.

Por tudo isso, agora, grito: não deixe o "agora" para o "depois", pois o "depois" pode ir embora e você perderá o que "foi".

PS: não quis nem por a sinópse para não tirar o encanto e o deleite dos que se derem a chance de ter contato com o filme. Abaixo deixo o link da trilha sonora (que, por sinal, é fantástica):

http://www.4shared.com/get/E2HbK-VO/PS_I_Love_You_Soundtrack_bayke.html

segunda-feira, agosto 02, 2010

Vida que Vive Vidas em Uma Vida




Como diria Chaplin, "a coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina". Ouso, porém, acrescentar algumas palavrinhas. Acho que a vida é, sim, o ciclo invertido que outrora narrou nosso roteirista. Começamos sem aperreios e, quando amadurecemos, todos eles nos preenchem. É um abuso escandaloso que associa problemas à experiências; maturidade à tempo; bons conselhos à sofrimento. Ao invés de, à medida que o tempo passa, colecionarmos "ausências" de conflitos, eles se amontanham e lotam nossas contas e depósitos do correio (são as cobranças chegando e os débitos se vencendo).
A experiência sem pudor tem a coragem de se filiar à alma sem vergonha que é a merda da pele enrugar. São as transições conturbadas que nos bate a porta com uma bandeja de bosta para, na cara, nos jogar. E novamente na janela ponho a bunda para defender que a pior mudança é o enterro da adolescência. Quem disse que é bom ter experiência não sabe dos juros que se cobra pelas poucas migalhas que catamos por aí estrada a fora.
A ansiedade que nos possui impede que sejamos úteis. Há de se arrumar um emprego: "Oh menino, você não quer ser gente?", já posso ouvir da tia que finge me tomar como família. A vida não é tão bonita como cantara Gonzaguinha. Tal qual a esperança, ao mesmo tempo que nos mata, um pouco todos os dias, também nos trás o necessário para agonizar os poucos minutos que arrastamos nesta coisa chamada VIDA. Aventurados mesmo são aqueles que vivem vidas em uma vida. Vidas que sofrem, que se alegram. Que se declinam, mas também carregam. Vidas que voltam, vidas que seguem. Mas uma só vida cujo soldo é a solda da confiança que não se entrega.
Não quero aqui valorar o que cada um toma por vida. Mas vida que é vida por si só é um conglomerado reunido num só nó. Assim já disse o Chaplin:

"A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso. Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade. Você vai para colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando. E termina tudo com um ótimo orgasmo! Não seria perfeito?" (Charles Chaplin).

Como eu não poderia deixar de propor, se a vida começa ao contrário, que tal "nós alinhar"? 

terça-feira, julho 20, 2010

Cagar é Bom Demais




Caros amigos leitores, permita-me, hoje, tirar uma pulga de trás de minha orelha e matar essa minha vontade mórbida de escrever sobre assuntos que poucos se aventuram.
Várias foram as vezes em que me perguntava o porquê de em muitas situações, quando falamos especialmente em cu, melecas do nariz, piolho, caspa e outras coisinhas mais, as pessoas nos olharem com indescritível e inegável horror. Algumas chegam até ao cúmulo do absurdo de virarem a cara como se nunca tivessem feito aquelas nojeiras e, no mais das vezes, sentido PRAZER. Quem nunca teve o deleite de tirar uma BIG CATOTA do nariz e olhá-la orgulhosamente? Aventuro-me a dizer que poucas coisas são mais prazerosas que soltar um pum barulhento e fedido depois de prender, por horas, as pregas do ânus (amarradas numa importante reunião da empresa). Vou mais longe ainda ao defender que um dos momentos mais sagrados no cotidiano das pessoas é a hora da cagada. Fala sério, vamos combinar: CAGAR É BOM DEMAIS. E é por isso, portanto, que o "momento do banheiro" é insubstituível. Aproveitando a oportunidade, então: "Taty, por favor, não atrapalha!".
Parece não pairar mais dúvidas que os "bons modos" já domesticaram as mais relevantes fontes de prazer. Nunca, em meus poucos anos de vida, vi uma "conversa de bar" girar em torno do "prazer de cagar".  As pessoas parecem ser mais educadas ou finas quando não tratam destes temas. São eles desejos intimamente coagidos a se manterem calados e inexpressíveis, mas que, quando realizados, melhor, postos em prática (hermeticamente, claro), proporcionam um prazer que nos prende e vicia. Sim, sim... é possível, sim, ser viciado em peidar, cagar e tirar cacas do nariz.
Devo admitir, porém, que - apesar dessa crítica - ainda me acho refém de algumas atitudes dos "bons modos". Vocês, por sua vez, hão de reconhecer que já tomei um importante passo e superei um grande obstáculos. Devo acrescentar, ainda, que este post não teria surgido se não fosse um sujeito muito escroto e sem papas na língua: Rogério Skylab. Conhecido por suas poesias sujas e pelos temas nada românticos ou desejados, Skylab fala de todos esses temas SEM QUALQUER REMORSO. A ele, então, deixo minhas homenagens:

http://www.youtube.com/watch?v=6cAALfyAcxI

segunda-feira, julho 12, 2010

Tempo



Começo, desde já, me desculpando pela ausência incomunicada e desprezo compromissado. Foram coisas da vida que nos arrastam das letras e nos leva para vielas que pedem explicações. Clamadas minhas sinceras desculpas, nossa escolha de hoje é o TEMPO. 

Há uma semana um bom sujeito me jogou na cara que o meu problema era o tempo. Logo eu, estudioso dele, vítima indefesa que, quando achava que atacava, nocauteado era. Pois bem. Acho eu que do tempo não se fala. No máximo, se sente. Sejam pelas rugas nas mãos ou na testa, sejam pelos cabelos grisalhos ou pela pele que, teimosa, se livra do colágeno que nos prende célula a célula. Mas vou lá me atrever a falar do infortúnio do tempo.
Tentando uma definição, o Agostinho chegou a uma conclusão óbvia, mas que, de tão óbvia, eu, idiota, não pensei antes que ele (bem pudera, penso eu agora: nasci depois). Segundo o religioso, frade, libidinoso, pecador ou qualquer outro adjetivo que você queira dar, pejorativo ou não (já que o "santo" tem currículo para  adotar qualquer um que você queira dar), o PASSADO é o tempo que um dia foi, mas que, hoje, já não o é mais. Logo, o PASSADO não existe. Brilhaaaaaaaante. Mas não paramos por aí. O PRESENTE, por sua vez, é o tempo que, mal nasce, já morre. É o mesmo que, à medida que vamos nos referindo a ele, vai se esvaziando e se esmilinguindo, tornando-se PASSADO. É o que constrói em torno de se uma capa impermeável cuja força é indescritível: quando tentamos palpá-lo ele corre de nós. Portanto, o PRESENTE também não existe. Já o FUTURO, sinto dizer que também ele é uma falácia: este é o tempo que um dia irá ser, mas que ainda não é. Assim, todos nós, idiotas, nos referimos a um tempo que, NA TEORIA, nem sequer existe. Uma criação que, por si só, não se sustenta. Mas afinal, para quê serve o tempo?
Uns dizem que é para nos orientar. Imagine só o que seria do mundo se não tivéssemos um despertador.  Como fariam as pessoas para chegarem ao trabalho e prestarem suas oito horas diárias e, no final do mês, terem seus soldos? Esse é o famoso TEMPO CRONOLÓGICO, sem o qual muitos diriam ser impossível viver; quero dizer, nos tempo atuais seria impossível viver.  É o tempo em que as pessoas organizam as baladas, fazem compras, ganham dinheiro e outras coisinhas mais que não me cabe  aqui citá-las por inteiro.  Neste tempo não cabe pausa ou  stop. Ele simplesmente corre, sem se preocupar com o que vem. Mas acredite, caro amigo leitor, muitas vezes ele mais me complica, que ajuda, quando leva meus poucos suspiros de tranqüilidade e me roubam os minutos de lazer. 
Quero, no entanto, ir mais além. Inúmeros foram os povos que viveram sem essa mesma concepção de tempo, mesmo ele ali vivendo atanazando seus administrados. E aí é que cabe outras e diversas correntes. Se falarmos do TEMPO ESPIRITUAL, acha você que seria contado em segundos? Onde começa o tempo quando o ponto é o ilimitado? O que significa eternidade, se não há medida ou espaço a que se compare? Para nossas mentes o tempo eterno é inconcebível já que, fatalmente, tenderemos a pensá-lo em anos, décadas, milênios ou qualquer outro combo de números. Tentamos de toda forma prendê-lo numa limitação, mesmo que cognominando-a de ilimitada.  O tempo assim visto é mera abstração. Mera especulação. E como todo conhecimento vagamente compreendido, é de pouco útil. 
Neste encruzilhada, nossas mentes acabam escravas de um processo de ida e vinda na elaboração de um tempo que dizemos que passou, do que esta passando e do que ainda passará. Não somos capazes de conceituar o atemporal, já que nossos pequenos pensamos encontram-se presos aos limites do limitável (o tempo). O problema é que muitos não notam que o pensamento é sempre passado. Que é a junção de nossas experiências e vivências que tentam se projetar para o futuro, fazendo planos que podem jamais se concretizar (e, aí, acabamos culpando o inocente: "é o tempo que ainda virá"). Neste momento é que me perco pensando: "A mente é a máquina do tempo, é o passado. O pensamento é sempre do passado, que é a continuação do conhecimento. Este é sempre do passado; o conhecimento nunca é sem tempo, mas sempre no tempo e do tempo. Essa continuação é a memória, o conhecimento, é a consciência", todos eles se misturam, mergulhando numa imprecisa definição de tempo.

terça-feira, junho 22, 2010

O que se diz que é amor




Alguns diriam que é querer bem. Gostar de estar ao lado. Ter esmero. Outros, que é se identificar.  É rolar a "química". Estar sempre junto. Mas nenhuma dessas respostas se eleva ao pedestal da pergunta: o que, raios, é o amor?
Eu fico puto com esses tipos de respostas. Todas são definições que não passam de aproximações grosseiras de um sentimento que, no mais da questão, dizem ser profundo. Não tentam, sequer, determinar o limite da paixão e das fronteiras do amor (se é que é possível tal proeza). Tão pouco apreendem o verdadeiro significado atrelado à palavra. São conceituações chulas que mais complica, que ajuda; deixado-nos com a leve e incômoda sensação de estar faltando alguma coisa. 
São respostas que se aproximam de um "cardápio de boas instruções", cuja utilização é largamente difundida entre pessoas que não se dão o trabalho de "sentir", mas, tão somente, de gritar aos  quatro cantos do mundo um sentimento que, por ventura, nunca de vero experenciou. O "x" da questão não se encontra na mera utilização conceitual que se dá ao "amor" e, sim, na banalização e difusão averbada que a expressão ganhou pelos recorrentes usos vulgares. "Nossa dificuldade está naquilo que chamamos de amor" (Krishnamurti).
Assistindo "As duas faces de um crime", um dos personagens me fez ganhar o dia quando recomendou: "Se sua mãe lhe disse que te ama, peça uma segunda opinião". Aqui, não se trata de duvidar do amor de um ente querido, mas de reparar o que significam aquelas palavras. Fico cá, com meus botões, me perguntando se é possível uma pessoa  AMAR a outra da noite pro dia. Duvido categoricamente.
A parte a questão conceitual, outro problema de ainda maior monta é o que tomamos por amor. O que lá dentro nos convence que realmente estamos amando? 
Acho que concordamos no ponto de que há uma diferença abismal entre o sentir e o falar. Ocupando-me, neste momento, com o sentir, aglomeram-se meus inquietamentos: quando choramos pela morte de nossas mães (permita-me tomar um exemplo bastante doloroso), nossa tristeza se dá pelo simples fato de vê-la perder a vida ou pela falta que elas irão fazer nas nossas? Receio que a segunda opção seja a mais sincera. Choramos não por elas em si., mas pela falta que elas nos irão fazer. Assim sendo, o amor se transforma numa adoração incondicional do "eu". Uma opressão do outro para adequação de nossos modelos, desejos e ambições. Um tolhimento do sentimento amor, que, amedrontado, se resume a recorrentes estados de comparação (se amamos mais ou menos, se ele(a) me ama mais que eu o(a) amo ou se o amor resistirá os infortúnios do tempo), gerando ciúmes e aflições.
Você poderia até responder que o choro é resultado da saudade, e só dela. Mas lhe resta lembrar que o sopapo bate dos dois lados: há algo mais egocêntrico que a dor que bate em SEU peito resultante da saudade? Repare que sempre utilizamos o EU para compor um sentimento que deveria ser ofertado apenas ao OUTRO, e não ser dividido entre aquele que dá (você mesmo) e aquele que recebe (seu ente querido). O que chamamos de amor passa por uma necessária existência de dois agentes: para amar é preciso ser amado. E é aí que uma frase bastante conhecida ganha ainda mais força: a maioria de nós ama mais a si mesmos. E isso acaba se tornando bastante duro de se aceitar. 
Nós damos afim de receber: ao dizermos que amamos o outro, respeitamos o estrito limite do que ele nos tem a oferecer. Perceba que, quando a dor resultante do relacionamento supera as felicidades, deixamos de amar. Aí se diz que o "amor" acabou. Mas aqui me pergunto: é possível o imensurável (o amor) findar? 
Incorporando essas concepções, grande parte das pessoas acaba transformando o amor numa questão de trocas. Invertem-se a rota das estradas: damos nossas mentes e não nossos corações. Assim, amigos, terminamos nos convencendo que querer o outro é o amar, onde - no cru (e no cu) - é amar a si mesmo.