sexta-feira, março 18, 2011

Pink Floyd - Meddle (1971)



           Muito bem amigos leitores, hoje tentarei fazer algo diferente. Resolvi passearmos por um universo desconhecido da atmosfera artificial (ou natural, seja como for) que o Pink Floyd nos carrega. O álbum escolhido foi o Meddle e isso por vários motivos que vocês constatarão ao lerem o post. 
            Lançado em 1971, o Meddle se apresentou como o projeto pelo o qual o Pink Floyd iria dar continuidade nos anos que se seguiriam. Foi quando a banda começou um processo de solidificação e coesão entre seus integrantes, começando a arriscar efeitos e melodias até então tidas como experimentais. É um tipo de álbum cujas faixas se prolongam de forma tal a comporem parte de um todo único e inseparável, como se constata na mudança da faixa 1 (One of These Days) para a faixa 2 (A Pillow of Winds), artifício esse recorrentemente utilizado em álbuns posteriores, como o "Dark Side of the Moon" (1973) e o "The Wall" (1979). Seria o começo de uma trajetória para um infinito desconhecido que, por aqueles tempos, começava-se a se desvendar.
             No epicentro de uma série de descobertas científicas, num mundo polarizado e em pleno fogo cruzado da corrida armamentista e espacial, o Meddle aparece entre o som caipira dos interiores ingleses e a revolução da descoberta do espaço sideral. É como se "Seamus" e "Echoes" compusessem e dividessem uma mesma realidade, e, de fato, dividiam. É o conhecido tomando parte do desconhecido. É a calmaria de "A Pillow of Wings" seguindo o caótico cenário de "One of These Days". Era, como o próprio título do álbum não deixa dúvidas, o "meio" (Meddle) de um mundo dividido em dois. Um lado de mudanças, outro de permanências. Um de armas,  outro de rosas. Um de dor, outro de amor. Um de ódio, outro de paz. 
              Basta um pouco de imaginação para, logo com a capa do álbum, viajarmos para um filme que passa diante nossos olhos: a base para o desenho final estampado no Meddle foi um "ouvido em baixo d´água", uma espécie de referência a distorções de todos os tipos. Como se submersos, a realidade exterior estivesse deturpada. É o claro encontrando com o escuro. É um câncer preto numa imensidão branca. É pavor e tranquilidade. É o "meio" entre a insanidade e a lucidez. É tudo isso querendo uma solução um pouco menos conturbada. 
            "One of These Days" é a faixa inaugural do álbum. Já com os primeiros acordes do contra-baixo, se prenuncia um ambiente confuso, desordenado e caótico. É como se o que separasse a tranquilidade do terror e do estresse das grandes cidades fosse uma única ponte. Logo vem os teclados ostilizando ainda mais a cena como se dissessem para ficarmos alertas aos perigos que, com certeza, iriamos nos defrontar. Não demora, então, para a guitarra-havaiana de Gilmour e a bateria apressada de Nick mostrarem para que veio. É a sonorificação das grandes metrópoles. São as buzinas dos automóveis pedindo passagem. É o concreto tomando lugar da terra. É o capitalismo proficiando "One of these days, I'm going to cut you into little pieces" (Num destes dias, Eu vou te cortar em pedacinhos).
             Como depois da tempestade tem a bonança, "A Pillow of Wings" é como um pouso de um voo turbulento. É o vento frio e incômodo dando lugar à segurança do lar. Chegamos, enfim, em casa. A noite tinha caído. Mais um dia que passou. Mas outro logo iria começar.  
              É neste momento que "Fearless" aparece como uma mensagem àqueles que temem tombar aos infortúnios daqueles tempos. "You say the hill's too steep to climb, Climb it" (Você diz que a colina é muito íngreme para escalar, Escale-a). É como se resistindo, provássemos que podíamos ir bem mais além do que podíamos imaginar. É encarar a multidão destemidamente. E um conselho, por fim, é dado: "Walk on, walk on, with hope in your heart, and you'll never walk alone, You'll never walk alone"(Caminhe, caminhe, com esperança no seu coração, e você nunca andará sozinho, você nunca andará sozinho).
              Aprendida a lição de casa, agora é tempo de sair. Vamos nos divertir. Vamos esquecer de tudo isso. Vamos a "San Tropez". É todo o dever sendo posto em prática. "Open a book, take a look at the way things stand" (Abra o livro, dê uma olhada na forma como as coisas foram postas). É aqui que todo o charme dos teclados de Richard Wright vem a tona, tranquilizando o agitado coração que outrora estava descontrolado, para fazer um par com "Seamus" em experimentação e licença poética e musical. 
                 Para fechar o álbum, temos a colossal "Echoes". Os pingos do além ganham grandes formas. É um universo distante e desconhecido gritando por ninguém. Clamando um encontro. Esperando pela eternidade. É o encontro com o próprio "eu". É o auto-conhecimento. É a viagem por "mim" e por "você". Sou "eu" e é o "outro".  Somos "nós" e "ninguém". É ser "tudo" e é ser "nada". É o "eco" de tudo que somos. "Eu'" sou "você", "você" sou "eu". E somos todos parte de um mesmo todo. "Strangers passing in the street, By chance two separate glances meet, And I am you and what I see is me" (Estranhos passando na rua, Acidentalmente dois olhares se encontram, E eu sou você e o que eu vejo sou eu). Aqui temos a personificação caricaturada de uma sociedade que, achando está mutilando o outro, não vê que se auto-mutila. E, assim, a canção se despede deixando-nos uma leve sensação que os clamores foram para ouvidos mocos. E regressamos para o buraco negro do qual nunca sairemos. De onde continuaremos pedindo aos céus uma canção de ninar. 

sexta-feira, março 11, 2011

Metal Contra as Núvens

          



             Depois de tanto tempo ausente, já tenho cruéis dúvidas se conservo aqueles meus poucos leitores. Caso eu tenha passado a ser apenas mais um escritor eremita, absoluta certeza tenho que fora por motivos bem mais justos que o meu inexplicado desaparecimento. Por outro lado, se eu conseguira conservar ao menos um de meu fiel público, a este minhas reverências e minha infeliz promessa que isso pode acontecer algumas vezes mais. Devo, porém, a estes dizer que não é por descaso ou qualquer outro motivo fútil que lamento ter que fugir. O fato é que, de uns meses para cá, tenho andado mais pesado que a pena que ilustra este espaço.
            Infelizmente são nos momentos de maiores dificuldades que nossos limitados olhos conseguem enxergar o que realmente importa. Por essas horas um completo tolo, um escravo de abismos que se multiplicam além de nosso controle. É quando a vida está por um fio e quando os suspiros se transformam em urros que dimensionamos a raridade de nossas vidas e a qualidade de nossas companhias. Devo dizer que não é o homem que faz o tempo, mas o tempo que faz o homem. São as marcas das cicatrizes que nos fazem lembrar o amargo sabor da dor e do valor que ela tem para fazer-nos perseverar. Talvez a única coisa que possamos arriscar quantificar é o tempo que levaremos para nos erguer das quedas que, com certeza, acontecerão. No meu caso, o tempo não tem pressa alguma. Quem sou eu, então, para tê-la?
             Cada vez mais comprimimos os poucos minutos que temos de reflexão, negociando-o por valores invertidos, onde o que é menos vale mais e o que é mais vale menos. Agora não quero exemplificar, sei que todos já sabem quando o sapato aperta o calcanhar. 
            Tenho que confessar que comecei escrevendo este post sem qualquer intenção pré-determinada. Sem qualquer assunto em mente. Simplesmente escrevi. E aqui está. Na verdade, pouco sei qual sentido terão todas essas linhas. Como cegar os olhos, ensurdecer os ouvidos e calar a boca são bem mais fáceis que dar a cara a tapa, uma coisa para mim é certa: duvido que farão o efeito que meu coração espera. Acho que tudo isso é uma mescla de raiva, solidão, revolta e carência. É um desabafo calado para todos aqueles que se negam a ouvir. É quando a brasa se torna cinza que o fogo ganha seu valor. Assim deixo minhas desculpas aos leais amigos, minhas lamurias a quem servir.

"Eu sou metal, raio, relâmpago e trovão (...), eu sou o ouro em seu brasão" (Renato Russo).