domingo, setembro 12, 2010

Quando o erudito fica ridículo.





Acho interessante como as pessoas tentam, de todos os modos, "escrever difícil", acreditando que, com isso, prenderão a atenção do leitor ou que se mostrarão menos fúteis. Lembro-me dos tempos de faculdade em que um mestre aconselhava: difícil mesmo é escrever fácil. Pensando sobre isso, vi, de fato, a profundidade do buraco. Passeando pelos blogs afora, deparei-me com uma infinidade de textos que falam tanto e não dizem nada. Acredito, sinceramente, amigo leitor, que nem os próprios autores conseguem extrair um pingo de sentido no que escrevem. Isso, sim, eu chamo de completa embromação.
Bem certo é que a linguagem pode e deve, em determinadas situações, se utilizar de recursos auxiliares e, por vezes, de custoso entendimento. Afinal, "conhecimento é poder". Mas o sentido e a utilização da linguagem "erudita" há muito que se encontram deturpados. Hoje, a erudição do outro quase que significa o meu não entendimento. Quando o outro fala difícil mentalizamos: "não entendi porra nenhuma, mas ele se "garante"". 
Em determinadas situações, por óbvio, isso é perfeitamente natural. Imagine que você acabou de iniciar uma graduação e a utilização recorrente de termos técnicos é mister para o debate sobre um assunto qualquer. Caso você não esteja entendendo nada, muito bem, vá estudar para esfolar sua ignorância. Situação bem diferente, no entanto, é a utilização da linguagem erudita numa conversa de barzinho ou sobre um tema popular. Amigos, vamos combinar, isso beira ao ridículo. Penso logo: onde você quer chegar? Quando o papo é o "sentido da vida", "idealismo", "filosofia", aí a bruxa corre solta. Vejo gente citar Hegel, Kant, Marx, Schopenhauer e muitos outros sem nunca terem lido uma linha sequer. Ouvem o galo cantar não sabe onde e saem por aí cocoricando.
A teimosia incansável de transformar um assunto em demasia simples num buraco obscuro de entendimento impossível parece não ter fim. Parece que não aprenderam que assuntos complexos devem ter tratamento diferenciado e serem abordados no limite de suas respectivas complexidades, valendo a mesma lógica para assuntos de tratamento simples. Como dizia Sharon Axé Moi (risos), "cada um no seu quadrado".
Convém, ainda, ressaltar que um rico vocabulário só demonstra, de fato, toda sua ostentação num ambiente capaz de interpretá-lo. Imagine-se apresentando uma bolsa, um relógio e um óculos da Oakley para um mendigo. De duas, uma: ou o mendigo roubaria os utensílios de você (mas não por serem da Oakley, e sim por serem produtos de fácil revenda) ou ele não daria a mínima. E isso por quê? A marca, para ele, não tem nenhum significado. A "bolinha achatada da Oakley" nada diz, já que ele não faz idéia do valor da logomarca. Na verdade, podia até pensar se tratar de produtos "made in China". Da mesma forma funciona o vocabulário: se você fala difícil com a secretária de sua casa, meu amigo, sua erudição não lhe está servindo de nada. Pior situação é você falar com uma pessoa funcionalmente erudita e conhecedora do assunto, jurando está abalando, e baforar rios de merda. Por isso, cuidado com o que você for falar e escrever. Do outro lado do canal pode existir alguém com vergonha alheia por você.
Como um reforço nunca é demais, o cara fodão mesmo é que torna simples a relatividade de Einstein