E devo dizer que é como um chute no próprio saco? Como definiríamos nossa política? Se alguns conceitualistas tomam política como a arte ou ciência da organização, direção e administração da máquina estatal, sou levado a completar que, se for uma arte, no Brasil, é de péssima qualidade; se uma ciência, elementar. Em pleno o pleito eleitoral, devemos preparar nossos ouvidos e concentrar nossas atenções para as enxurradas de mentiras e avalanches de falsidades que ouviremos na televisão, nos jornais ou em qualquer outro meio de comunicação. É hilário, para não baforar aqui uma palavra de baixo calão, a forma como o nosso país fala e trata de política. Aqui, abaixo do Equador, toda denotação vira conotação. São estes os momentos em que podemos, de fato, aprender o verdadeiro significado dos eufemismos, dos pleonasmos e das mentiras.
Poucos sabem a diferença entre "democracia", "federação", "república", "presidencialismo", "parlamentarismo". "Ué, não é a mesma coisa?", perguntam-se por aí milhares de brasileiros. Não, senhores, não é a mesma coisa. Como diria o ditado popular: "O que é que o cu tem haver com as calças?". E não venha me dizer que isso é uma gangrena da ralé. Isso é uma realidade partilhada por ricos e pobres. Nesta hora, pergunto a você: qual a função de um "presidente", de um "governador", de um "deputado", de um "senador"? Quais suas semelhanças? E suas diferenças? Se senadores e deputados são partes de um mesmo poder (o Legislativo), o quê os une? O quê os separa? Se você não sabe responder essas perguntas, lembre-se que, em Outubro, você irá votar.
Mas o pior da feira é o pagamento. Votamos sem saber para quê. Não nos informamos de quase nada. Não lemos as matérias sobre política. E ainda temos a cara de pau de reclamar. Por falta de um carrasco mais exemplar, crucificamos o Estado, esquecendo que ele é formado e administrado por homens. Qual será o próximo Collor que voltará ao poder?
Weber, ainda na segunda metade do Século XIX, dizia que o mundo da política devia ser vocacional. Sim, sim, caro leitor, VOCACIONAL. A saber ser o conceito de “política” bastante amplo, abrangendo toda as espécies de atividade diretiva autônoma, como – por exemplo – a “política bancária”, a “política de descontos” de alguma empresa, a “política sindical”, a “política escolar” e mesmo a "política governamental", o alemão acreditava que, independentemente de onde a política ganhasse pernas, sabendo que é uma atividade essencialmente administrativa e complexa, para exercê-la haveria de se ter "dom" para isso. E por que há de existir esse "dom"?
Sabendo que, apenas no Século XIX, é que o Estado, como entidade corporativa política, passara a reivindicar o monopólio do uso legítimo da violência física, não existindo, antes disso, qualquer reconhecimento, em relação a qualquer outro grupo ou aos indivíduos, do direito de fazer uso LEGÍTIMO da violência, o Estado, naqueles tempos e hoje também, é a única fonte do “direito à violência”. Com este monopólio em mãos, o Estado passou a exercer, de outra maneira, é bem certo, a dominação do homem sobre o homem, fundada no instrumento da violência legítima. Sua existência associou-se à legitimidade de sua causa e a subordinação à autoridade continuamente reivindicada pelos dominadores, a qual deveria os dominados se submeterem. Fora as forças policiais, transformou-se também o Estado na mãe provedora da nossa educação e saúde. É ele quem cuida dos ferimentos e estabelece nossas "memórias memoráveis". Como se isso fosse pouco, cabe também ao Estado a exploração e provimento de nossos recursos naturais e científicos. Enfim, cabe ao Estado nossas vidas.
A saber dessas pequenas minúcias, retomo uma frase por demais conhecida: "quem não gosta de política é governado pelos que gostam". Você não precisa tomá-la como sua grande paixão. Basta tomá-la como uma obrigação.