sexta-feira, agosto 20, 2010

Política: entre conceitos e críticas.






E devo dizer que é como um chute no próprio saco? Como definiríamos nossa política? Se alguns conceitualistas tomam política como a arte ou ciência da organização, direção e administração da máquina estatal, sou levado a completar que, se for uma arte, no Brasil, é de péssima qualidade; se uma ciência, elementar. Em pleno o pleito eleitoral, devemos preparar nossos ouvidos e concentrar nossas atenções para as enxurradas de mentiras e avalanches de falsidades que ouviremos na televisão, nos jornais ou em qualquer outro meio de comunicação. É hilário, para não baforar aqui uma palavra de baixo calão, a forma como o nosso país fala e trata de política. Aqui, abaixo do Equador, toda denotação vira conotação. São estes os momentos em que podemos, de fato, aprender o verdadeiro significado dos eufemismos, dos pleonasmos e das mentiras.

Poucos sabem a diferença entre "democracia", "federação", "república", "presidencialismo", "parlamentarismo". "Ué, não é a mesma coisa?", perguntam-se por aí milhares de brasileiros. Não, senhores, não é a mesma coisa. Como diria o ditado popular: "O que é que o cu tem haver com as calças?". E não venha me dizer que isso é uma gangrena da ralé. Isso é uma realidade partilhada por ricos e pobres. Nesta hora, pergunto a você: qual a função de um "presidente", de um "governador", de um "deputado", de um "senador"? Quais suas semelhanças? E suas diferenças? Se senadores e deputados são partes de um mesmo poder (o Legislativo), o quê os une? O quê os separa? Se você não sabe responder essas perguntas, lembre-se que, em Outubro, você irá votar. 
Mas o pior da feira é o pagamento. Votamos sem saber para quê. Não nos informamos de quase nada. Não lemos as matérias sobre política. E ainda temos a cara de pau de reclamar. Por falta de um carrasco mais exemplar, crucificamos o Estado, esquecendo que ele é formado e administrado por homens. Qual será o próximo Collor que voltará ao poder? 
Weber, ainda na segunda metade do Século XIX, dizia que o mundo da política devia ser vocacional. Sim, sim, caro leitor, VOCACIONAL. A saber ser o conceito de “política” bastante amplo, abrangendo toda as espécies de atividade diretiva autônoma, como – por exemplo – a “política bancária”, a “política de descontos” de alguma empresa, a “política sindical”, a “política escolar” e mesmo a "política governamental", o alemão acreditava que, independentemente de onde a política ganhasse pernas, sabendo que é uma atividade essencialmente administrativa e complexa, para exercê-la haveria de se ter "dom" para isso. E por que há de existir esse "dom"?
Sabendo que, apenas no Século XIX, é que o Estado, como entidade corporativa política, passara a reivindicar o monopólio do uso legítimo da violência física, não existindo, antes disso, qualquer  reconhecimento, em relação a qualquer outro grupo ou aos indivíduos, do direito de fazer uso LEGÍTIMO da violência,  o Estado, naqueles tempos e hoje também, é a única fonte do “direito à violência”. Com este monopólio em mãos, o Estado passou a exercer, de outra maneira, é bem certo, a dominação do homem sobre o homem, fundada no instrumento da violência legítima. Sua existência associou-se à legitimidade de sua causa e a subordinação à autoridade continuamente reivindicada pelos dominadores, a qual deveria os dominados se submeterem. Fora as forças policiais, transformou-se também o Estado na mãe provedora da nossa educação e saúde. É ele quem cuida dos ferimentos e estabelece nossas "memórias memoráveis". Como se isso fosse pouco, cabe também ao Estado a exploração e provimento de nossos recursos naturais e científicos. Enfim, cabe ao Estado nossas vidas. 
A saber dessas pequenas minúcias, retomo uma frase por demais conhecida: "quem não gosta de política é governado pelos que gostam". Você não precisa tomá-la como sua grande paixão. Basta tomá-la como uma obrigação. 

quarta-feira, agosto 11, 2010

P.S.: Eu te amo.



 Eu não sou muito de chorar em filmes. Principalmente quando se tem mais de uma pessoa na sala. Com “PS: eu te amo”, no entanto, a coisa caminhou com um rumo diferente. Bem certo é que não tinha ninguém na sala, mas, mesmo se tivesse, o resultado não teria sido muito diferente. Do início ao fim, lágrimas me saltaram ao rosto. Hora de um lado, hora de outro, hora de ambos os olhos.

Certa vez uma pessoa me disse “a vida é agora. A vida está sendo agora. A vida já começou”. Para quem costuma ter como companhia a ansiedade, achando que o melhor da vida ainda estar por vir ou que a vida ainda vai inquinar, este filme é uma tapa com luva na cara. É uma forma dispare de dizer para vivermos o agora, já que este é o único tempo em que temos certeza de que podemos fazer alguma coisa. É você aproveitar as pessoas insubstituíveis como se só elas lhe restasse. É olhar para seus amados e verem neles as fontes de suas felicidades. É não aguardar por um tempo que, talvez, jamais ancore. É ter coragem de viver com o coração e ter gana para dizer que se ama sem saber o porquê.

Além disso, "PS" inova no que toma por "fim". Refresca nossas cabeças ao lembrar que as pequenas atitudes é que se transformarão nas grandes lembranças. Ensina-nos a sentir muito mais que paixão. É um filme que acredita no amor, indicado para românticos e não-românticos (para esses,  porém, recomendo assistirem sozinhos, para não terem vergonha de chorar). É, por fim, meus caros amigos, um filme que nos inspira a ser - a todo custo - feliz.

Por tudo isso, agora, grito: não deixe o "agora" para o "depois", pois o "depois" pode ir embora e você perderá o que "foi".

PS: não quis nem por a sinópse para não tirar o encanto e o deleite dos que se derem a chance de ter contato com o filme. Abaixo deixo o link da trilha sonora (que, por sinal, é fantástica):

http://www.4shared.com/get/E2HbK-VO/PS_I_Love_You_Soundtrack_bayke.html

segunda-feira, agosto 02, 2010

Vida que Vive Vidas em Uma Vida




Como diria Chaplin, "a coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina". Ouso, porém, acrescentar algumas palavrinhas. Acho que a vida é, sim, o ciclo invertido que outrora narrou nosso roteirista. Começamos sem aperreios e, quando amadurecemos, todos eles nos preenchem. É um abuso escandaloso que associa problemas à experiências; maturidade à tempo; bons conselhos à sofrimento. Ao invés de, à medida que o tempo passa, colecionarmos "ausências" de conflitos, eles se amontanham e lotam nossas contas e depósitos do correio (são as cobranças chegando e os débitos se vencendo).
A experiência sem pudor tem a coragem de se filiar à alma sem vergonha que é a merda da pele enrugar. São as transições conturbadas que nos bate a porta com uma bandeja de bosta para, na cara, nos jogar. E novamente na janela ponho a bunda para defender que a pior mudança é o enterro da adolescência. Quem disse que é bom ter experiência não sabe dos juros que se cobra pelas poucas migalhas que catamos por aí estrada a fora.
A ansiedade que nos possui impede que sejamos úteis. Há de se arrumar um emprego: "Oh menino, você não quer ser gente?", já posso ouvir da tia que finge me tomar como família. A vida não é tão bonita como cantara Gonzaguinha. Tal qual a esperança, ao mesmo tempo que nos mata, um pouco todos os dias, também nos trás o necessário para agonizar os poucos minutos que arrastamos nesta coisa chamada VIDA. Aventurados mesmo são aqueles que vivem vidas em uma vida. Vidas que sofrem, que se alegram. Que se declinam, mas também carregam. Vidas que voltam, vidas que seguem. Mas uma só vida cujo soldo é a solda da confiança que não se entrega.
Não quero aqui valorar o que cada um toma por vida. Mas vida que é vida por si só é um conglomerado reunido num só nó. Assim já disse o Chaplin:

"A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso. Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade. Você vai para colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando. E termina tudo com um ótimo orgasmo! Não seria perfeito?" (Charles Chaplin).

Como eu não poderia deixar de propor, se a vida começa ao contrário, que tal "nós alinhar"?